Donna Haraway tentou chamar a atenção para um novo campo do saber, a cyborgologia. Ela propõe uma visão dos cyborgs como um organismo, meio máquina, meio biológico, que possui uma identidade parcial e contraditória que poderia nos liberar do racismo, do sexismo da civilização Ocidental entre outras coisas. Porém o cyborg não pode replicar copias dele mesmo.
Para Haraway o cyborg vem meio à cultura contemporânea a partir de três abalos de fronteira: entre os animais e os seres humanos, entre o orgânico e o inorgânico e entre o físico e o não-físico. O cyborg não se preocupa em tentar separar o homem das outras espécies vivas, mas busca o acoplamento radical.
Na questão animais e máquinas, o cyborg aparece como um ser simbiótico dotado de partes orgânicas e inorgânicas. Isso fica mais radical com as novas tecnologias que fazem as fronteiras entre cultura e natureza entrarem em colapso. A terceira ruptura é ligada a segunda, pois se refere ao nível de imprecisão da separação do físico e não – físico. Essa é a virtualização do mundo onde as diferenças ficam cada vez menores entre o visível e o não visível.
Esse mito do cyborg quebra fronteiras e abala a hegemonia do discurso feminista ou de esquerda, que tem a vida social já estabelecida. Donna Haraway pensa o mundo cyborg como aquele em que a realidade social e corporal são presenciadas por uma sociedade que não teme se juntar à matéria inorgânica ou de perder suas identidades e de experimentar a contradição.
Um exemplo de cyborg é a personagem Emília, de Monteiro Lobato. Seu hibridismo é reconhecido em sua construção, feita a partir de uma saia velha, e na condução de seu pensamento. A lógica de Emília ultrapassa as limitações de um ser humano comum e lhe propicia diferentes interpretações da realidade.
Maffesoli fala de uma lógica identidade da modernidade à uma lógica de identidade da vida contemporânea, sendo mais operada pela afinidade do que por identidade. E com o colonialismo, patriarcalismo e o capitalismo nos foram impostas as questões de classes, raça e gênero. Tendo como afinidade a “identidade cyborg” se constrói longe da apropriação de uma identidade e podendo ser a única a criar uma política que abrace o parcial e também o contraditório entre outras.
Haraway traça uma crítica contra o marxismo e o feminismo mostrando como eles fracassaram com estratégia de identidade. Essas abordagens são reguladas por totalizações e ao por fragmentação ou explicação parcial. Foge do que já se existe, rompe as barreiras é novo e inusitado. O cyborg é um mito sobre identidade e fronteiras.
O discurso do cyborg é pós-moderno e desloca o dualismo hierárquico de identidades naturalizadas. A civilização ocidental tem característica de requisição de “outro” (negros, homossexuais) num processo de dominação e controle. O dualismo estrutura a separação entre mente e corpo, realidade e aparência. Na era da tecnologia todos nós nos transformamos em seres híbridos, cyborgs da civilização virtual. A cibercultura está a ponto de não sabermos direito onde mais começa o homem e termina a máquina. Nos transformamos a nível do corpo biológico, mas também a nível do corpo social, em sistemas bióticos e híbridos. O mito do cyborg implica na não legitimação de discursos totalizadores e na refutação de uma metafísica anti-cientifica e anti-tecnologica aproveitando para comunicar com os outros, expandir fronteiras e anular dicotomias preestabelecidas.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
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